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Cláudio Castro, Marcelo Freixo, Felipe Santa Cruz, Rodrigo Neves: "Eu sou de todo mundo"

* Por Paulo Baía, sociólogo, cientista político e professor da UFRJ

Em 17/07/2021 às 14:41:32

Temos hoje, no Estado do Rio de Janeiro, uma situação que, no mínimo, é curiosa: no cenário já histórico e estruturado de crise de lideranças e fadiga de governantes. Sérgio Cabral e Wilson Witzel são os emblemas maiores e mais notórios desse estresse institucional.

Até o momento, segunda quinzena de julho de 2021, quatro jovens políticos são pré-candidatos a Governador do RJ. Os quatro muito ativos, presentes, com visibilidade nas diversas mídias, fazendo uma pré-campanha dinâmica, diversificada e ousada, com criatividade e aura de legitimidade em todo o estado até o momento.

São eles: o atual governador, Cláudio Castro, que está no Partido Liberal (PL), conta com apoio da maioria dos 92 prefeitos do estado; dos três senadores - Romário do PL, Carlos Portinho do PL, e Flávio Bolsonaro do Patriotas; da maioria dos deputados da Assembleia Legislativa; e da maioria da bancada fluminense e carioca dos deputados federais. Cláudio Castro, que era desconhecido, vereador de poucos votos na cidade do Rio de Janeiro, cantor e ativista católico romano, vem se afirmando como excelente articulador, prudente na tomada de decisões e gentil no governo do Estado. Surge como candidato muito forte ao governo, sobretudo depois do novo pacto de Recuperação Fiscal por 10 anos que reativou as linhas de crédito para o estado do Rio de Janeiro, possibilitanto retomar políticas públicas em todas as áreas de governo. Como consequência do Pacto de Recuperação Fiscal, a venda da CEDAE colocou mais de 14 bilhões no caixa do tesouro estadual.

Cláudio Castro trabalha a utilização desse caixa estadual generoso com as demandas dos três senadores, dos deputados estaduais, federais, prefeitos, presidente da república e um sem número de lideranças comunitárias, religiosas e empresariais.

Cláudio Castro conta, então, com um volume elevado de dinheiro, líquido, sem impedimentos, que está usando de pronto em ações articuladas com prefeituras para obras de investimento, manutenção e reestruturação de infraestrutura, de prestação de serviço e emergências, dentre outras.

Acredito que muita coisa vai acontecer em função desse dinheiro em caixa, até outubro de 2022.

Logo, com efeito, Cláudio Castro vai se consolidando como um candidato viável e muito forte à reeleição.

Outro candidato é o militante social e deputado federal Marcelo Freixo, que já vem em pré-campanha há bastante tempo, desde 2020, com uma proposta de aliança política ampla, democrática, com um gradiente da centro-direita, centro, centro-esquerda e esquerda. Essa proposta fez Marcelo Freixo se deslocar do PSOL - Partido Socialismo e Liberdade - para o PSB - Partido Socialista Brasileiro - que é social democrata e recepciona as proposta de Freixo de maneira muito confortável e cômoda, ao contrário do PSOL, que não vê com bons olhos uma política de Frente Democrática e quer uma aliança somente com a esquerda, uma "Frente Popular Socialista", no sentido marxista do termo.

Marcelo Freixo vem com muita agilidade e determinação agindo em todo o território do estado do RJ, tem seu nome bem citado em muitas pesquisas.

O entrave que Marcelo Freixo tem com setores do centro político e religiosos é a estigmatização, injusta, de seu nome como um radical de esquerda revolucionário, um arrivista usuário e incentivador do uso de drogas, fruto da campanha vil, mentirosa, de desconstrução da imagem pública de Freixo feita por Marcelo Crivella em 2016 e bolsonaristas em 2018 e 2019.

A intenção de Freixo é formar uma ampla coligação, tendo como base o prefeito Eduardo Paes, Partido dos Trabalhadores, organizações da sociedade civil, artistas, intelectuais, líderes comunitários, acadêmicos, estudantes, favelados, identitários e temáticos.

O terceiro nome é Rodrigo Neves, ex-prefeito de Niterói, muito bem avaliado na ex-capital fluminense, que retorna de Portugal em missão árdua. Está em pré-campanha aberta e desassombrada para governador do estado, pelo PDT - Partido Democrático Trabalhista - que é trabalhista por sua história e social democrata em sua doutrina.

Rodrigo Neves tem uma base geopolítica grande de apoio para além de Niterói e é um gestor testado, muito bem visto por todos os prefeitos no Estado do Rio de Janeiro. Tem alianças estratégicas em toda a Região Metropolitana, que concentra 70% do eleitorado Fluminense e carioca.

Neves, por sua história proba de vida e uma ilegal prisão arbitrária, tornou-se imune a acusações de improbidade administrativa e corrupção na gestão do município de Niterói.

Ele é um nome forte, faz com que o PDT se anime a ter um candidato próprio a governador, sobretudo para viabilizar sua chapa de deputados federais e deputados estaduais.

O quarto nome é do advogado, professor e jurista Felipe Santa Cruz, atual presidente nacional da OAB.

É um ativista antigo por direitos fundamentais, sociais, trabalhistas, ambientais, coletivos e difusos, advogado que fez uma carreira muito bem articulada no Estado do Rio de Janeiro e chega à direção nacional da OAB pelo desempenho com visibilidade nacional em seus compromissos sociais, políticos e ideológicos por justiça e equidade na sociedade brasileira.

Santa Cruz tem o apoio direto e irrestrito do prefeito carioca Eduardo Paes, que se filiou ao PSD - Partido da Social Democracia - de doutrina liberal social como é o histórico de vida de Eduardo Paes. O atual prefeito da cidade do Rio de Janeiro é um nome forte que se consolidou na eleição municipal de 2020 e passou todo o turbilhão da Operação Lava-Jato, que prendeu Sérgio Cabral, ao largo de acusações fomais e sem ser atingido pelas malhas policiais e judiciais que se tornaram a trágica rotina da política carioca e fluminense.

Felipe Santa Cruz está no mesmo partido de Eduardo e é pré-candidato ao governo do estado.

Portanto, nós temos Cláudio Castro, Marcelo Freixo, Rodrigo Neves e Felipe Santa Cruz como os nomes da Primeira Divisão Eleitoral na disputa ao Governo do Estado.

Chamo a atenção para o fato de que tanto Marcelo Freixo quanto Rodrigo Neves e Felipe Santa Cruz têm as mesmas propostas de formar uma única chapa para enfrentar Cláudio Castro.

Creio que nenhum dos quatro nomes abrirá mão com facilidade da postulação ao governo do estado.

Entretanto, tenho observado, com elementos tirados das pesquisas quantitativas divulgadas e de algumas pesquisas qualitativas a que tive acesso, das conversas que tenho tido com parlamentares, ex-parlamentares, dirigentes de múltiplos partidos, agentes privados, públicos, comunitários, religiosos, atores sociais identitários temáticos de todos os segmentos de nossa sociedade carioca e fluminense, que uma chapa que tenha Rodrigo Neves como candidato ao governo, Felipe Santa Cruz ou Marcelo Freixo como vice e Felipe Santa Cruz ou Marcelo Freixo como candidato ao Senado Federal é um desenho de chapa que ficará palatável, com mais competitividade eleitoral para enfrentar Cláudio Castro, que está consolidado como candidato, independentemente das alianças que vier a fazer na disputa para o governo estadual.

Chamo mais uma vez a atenção para esse desenho político eleitoral, que hoje não se apresenta como possível.

É difícil pensar numa outra composição com Felipe Santa Cruz ou Marcelo Freixo como cabeça de chapa.

Essa composição depende em especial da posição de Eduardo Paes, líder do PSD no estado do Rio de Janeiro, prefeito muito bem avaliado no momento e que terá sua avaliação melhorada, pois está com projetos ousados para a cidade do Rio de Janeiro, que é cidade que ecoa, reverbera, em nível nacional, estadual e regional, com grandes impactos sociais, políticos e eleitorais em toda a região metropolitana.

Eduardo Paes, como prefeito, também se beneficiou muito com os recursos da venda da Cedae. Tem alguns bilhões no tesouro municipal advindos da venda da CEDAE. Paes, como Cláudio Castro, tem projetos políticos ousados para Cidade do Rio de Janeiro. Esses projetos passam desde a geração de empregos até a reestruturação completa do município, como fez em suas duas gestões anteriores, com total apoio financeiro dos governos Lula, Dilma e Michel Temer.

Para minha surpresa, Eduardo Paes está enfrentando, inclusive, o poder das milícias na área da construção civil, uso do solo, território e preservação ambiental, reprimindo loteamentos irregulares, construção de condomínios em APAs e controle das formas de transporte urbano, pauta muito parecida com a de Marcelo Freixo.

Por isso, acredito que até abril do próximo ano, 2022, essas três forças: Rodrigo Neves, Felipe Santa Cruz e Marcelo Freixo tendem a compor uma única chapa com o desenho eleitoral de Rodrigo Neves como candidato ao governo, Felipe Santa Cruz e Marcelo Freixo como vice e candidato ao senado.

Creio mesmo que Marcelo Freixo já está sendo estimulado a ser vice governador de Rodrigo Neves, um vice governador com protagonismo semelhante ao que teve Márcio França no estado de São Paulo e Luiz Fernando Pezão no estado do Rio de Janeiro.

O que me chama mais a atenção, salta aos olhos, e que hoje já é vislumbrado por alguns atentos observadores do cotidiano político estadual, é que Cláudio Castro apoiará a reeleição de Jair Bolsonaro de maneira pública e oficial, mas esse apoio será discreto, muito discreto, nas ruas e municípios. Muito de leve, existe em movimento significativo de prefeitos, candidatos a deputados estaduais e federais a Chapa CastroLula.

Ele apoiará, formalmente, a candidatura de Jair Bolsonaro, mas muitas de suas bases de campanha, da Região Metropolitana e no interior, articulam essa chapa paralela CastroLula. O candidato ao senado de Cláudio Castro, certamente, será o atual prefeito de Duque de Caixas, Washington Reis, que, em seu pragmatismo, apoiará a candidatura de Jair Bolsonaro para presidente da República, bem como a de Luiz Inácio Lula da Silva e a de Ciro Gomes.

É como dizem os Tribalistas:

"...Eu sou de ninguém

Eu sou de todo mundo

E todo mundo me quer bem

Eu sou de ninguém

Eu sou de todo mundo

E todo mundo é meu também..."

O Partido dos Trabalhadores (PT) tem sinalizado que apoiará um desses candidatos a Governador, com exceção de Cláudio Castro, mas ainda não fechou questão e pode ter formalmente uma candidatura, que seria de fachada, para marcar posição e facilitar as articulações de Washington Quaquá e André Ceciliano, pois a campanha de Lula é a prioridade. O PT estará com "quem vier", todos são bem-vindos, principalmente da povoada Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Lula terá vários e complexos palanques, Jair Bolsonaro e Ciro Gomes não contam com essa pespectiva, mas tudo pode acontecer.

De toda forma, o desenho da principal chapa de oposição a Cláudio Castro, com Marcelo Freixo, Felipe Santa Cruz e Rodrigo Neves juntos, tem um outro empecilho, que é a candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República, que não será desfeita, mesmo com os muitos desanimados com a empreitada trabalhista. Me parece que o desânimo com Ciro Gomes também contaminou os humores de Rodrigo Neves.

Isso poderá fazer com que Rodrigo Neves também tenha uma chapa de apoio ao Lula, paralela, não formal nesse quadro, sem também bater muito de frente com Jair Bolsonaro, embora colocando seu discurso na oposição a Jair Bolsonaro. Washington Reis e Vaguinho são sempre bem-vindos quando se fala em eleição.

Muito embora, eu acredite que Rodrigo Neves, Felipe Santa Cruz e Marcelo Freixo marcarão uma posição bem definida contra Jair Bolsonaro.

Nesse sentido, nós vamos ver ainda outras candidaturas. Certamente, o PSOL lançará como candidato o professor Tarcísio Mota ou um de seus deputados ou deputadas, e o longevo parlamentar, hoje vereador Chico Alencar ao Senado, visto que é da característica do PSOL lançar candidaturas próprias, com uma base de militância já definida. O fato de Marcelo Freixo ter saído do PSOL fortalece e facilita essa tendência.

Não creio muito que outros partidos lancem candidatos, com exceção do PSL- Partido Social Liberal - e do Novo, que deverão ter nomes no pleito para o governo do estado.

O PRTB - Partido Renovador Trabalhista Brasileiro - demonstra vontade de ter o General Hamilton Mourão como candidato a governador do RJ, mas o assunto é nebuloso, depende mais de Mourão querer ser candidato.

Teremos o PSTU - Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado - e PCO - Partido da Causa Operária - que, mesmo não acreditando no processo eleitoral, sempre lançam candidatos para fazer um proselitismo revolucionário clássico marxista e/ou trotskista.

Então, temos esse cenário, que já se aproxima rápido do período de bater os martelos, de abril a julho de 2022, com a formação de dois campos para disputa do governo estadual.

Cláudio Castro - sem a importância de quem será seu vice, com o candidato ao Senado Washington Reis -, que é um candidato muito forte.

E o outro bloco, uma candidatura que deve reunir as forças lideradas por Eduardo Paes, representada por Felipe Santa Cruz, a tradição do PDT representada pela jovem liderança que é Rodrigo Neves. Eu enxergo não uma fissura, mas um certo distanciamento pragmático de Rodrigo Neves da pauta diária de Ciro Gomes, embora Carlos Luppi, com sua longa experiência como presidente do PDT, vá negar o tempo todo.

Marcelo Freixo com um nome muito forte nesse tabuleiro e que dará a grife "antifascista" a essa provável chapa contra Cláudio Castro.

Creio que os três nomes - Marcelo Freixo, Rodrigo Neves e Felipe Santa Cruz - caminham para um entendimento para serem competitivos na eleição de outubro de 2022.

Enfatizando, desde já, que Cláudio Castro é o mais forte candidato que temos no momento.

Eu falo isso para mostrar que, curiosamente, de maneira interessante e calculada, nós teremos uma diluição das campanhas presidenciais de Jair Bolsonaro, de Ciro Gomes e de Luiz Inácio Lula da Silva, o que é um clima eleitoral favorável em termos genéricos para Lula, nas campanhas para o governo do estado.

Essas campanhas, no primeiro turno, vão ficar mais distanciadas de um apoio expressivo, de um apoio muito visível dos presidenciáveis. Jair Bolsonaro, Lula e Ciro Gomes é que enfatizarão os apoios em suas campanhas.

Embora se tenha Cláudio Castro apoiando Jair Bolsonaro e Marcelo Freixo, Rodrigo Neves e Felipe Santa Cruz apoiando Lula e Ciro Gomes, dependendo do município e das diversas candidaturas para parlamentares.

Essa situação, que será muito curiosa, serve para observarmos que os candidatos a governador não colocaram peso na balança das candidaturas presidenciais. Acontecerá o inverso: os presidenciáveis é que colocarão seus nomes e investimentos nas candidaturas a governador e isso será uma novidade.

As candidaturas ao governo do estado terão seus embates próprios, focados no estado do Rio de Janeiro.

Haverá, pelo que percebo, uma separação dos destinos das campanhas ao governo estadual dos caminhos próprios e autônomos de Lula, Jair Bolsonaro e Ciro Gomes.

Tudo caminha para as bases de apoio dessas duas candidaturas fortes: Cláudio Castro e o grupo de Rodrigo Neves, Marcelo Freixo e Felipe Santa Cruz, se estiverem juntos.

Ou de quatro candidaturas: Cláudio Castro, Rodrigo Neves, Felipe Santa Cruz e Marcelo Freixo, algo que eu não acredito.

Creio, sim, que teremos apenas duas candidaturas: Cláudio Castro de um lado e o bloco Rodrigo Neves/ Felipe Santa Cruz/Marcelo Freixo, de outro.

São blocos competitivos, independentemente de outras candidaturas que venham a surgir, e certamente surgirão.

Se o bloco Rodrigo Neves/Felipe Santa Cruz /Marcelo Freixo não se formar, teremos Cláudio Castro reeleito com facilidade em 2022.


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